Cárquere
pertence ao concelho de Resende, Distrito de Viseu, província
do Douro Litoral. Tem uma área de 7.8 km quadrados e
estende-se pela vertente setentrional da Serra do Montemuro.
A freguesia compreende os lugares de Serradinho, Corvo, Tulhas,
Arrifana, Passos, Torre de Beba, Rendol, Beba, Codeceira, Canizes,
Granja e Sequeiros.
A origem do topónimo “Cárquere”
é muito discutida. Segundo Pinho Leal, tem origem na
palavra portuguesa “carque” (carqueja), mas o
Professor Doutor Albino de Almeida Matos afirma que vem do
genitivo latino “Carcavi”.
Os romanos, que permaneceram no nosso território durante
muito tempo, deixaram-nos uma grande quantidade de achados
arqueológicos: lápides funerárias, moedas,
restos de habitações, telhas, tijolos, bases
de colunas, fustes (parte da coluna entre o capitel e a base)
sem caneluras (estria ou sulco, em forma de meia cana, que
se abre verticalmente em colunas e outras construções),
capitéis coríntios toscos, mós de pedra
de moinhos manuais, fragmentos de louças, colheres
de ferro, caldeirões de cobre, um touro de ouro, pesos
de barro, fíbulas (fivela ou fecho), objectos de bronze,
lucernas (espécie de lanterna), alfinetes e uma careta
humana de bronze.
Na época dos romanos, Cárquere deveria ser
uma cidadela com templos situados nos locais mais altos e
com casas de arquitectura muito simples, aliás, muito
parecidas com as casas tradicionais de Cárquere, pelo
que se pôde comprovar nas escavações efectuadas.
As actividades principais seriam a agricultura, a pecuária,
a caça, o comércio e o artesanato.
O culto:
O culto dos deuses poderia envolver o comércio e deveria
haver também uma guarnição militar, como
em muitas cidades romanas.
A população carquerense tinha uma vida dura,
com uma baixa esperança média de vida, sem tempo
para diversões e muito ligada à família.
Entretanto, na época visigótica e, embora não
existam provas em concreto da sua permanência neste
território, temos a salientar a imagem de Santa Maria
(de Cárquere), feita em marfim. Supõe-se que
seja uma imagem visigótica, dos séculos VI ou
VII.
Outro povo que esteve no nosso território foi o povo
árabe que, depois de uma ocupação prolongada,
foi expulso pelo conde D. Henrique que repovoou o território
com cristãos, em 1099.
Das várias personalidades que fizeram a história
desta freguesia ressaltam imediatamente à memória
nomes como D. Afonso Enrriques e Egas Moniz. No entanto, outros
nomes podem ser apontados pela importância do seu contributo
a esta freguesia:
João Pinto
Nasceu em Cárquere em 1559 e destacou-se por ser um
homem da cultura. Entrou para a Companhia de Jesus, ensinou
Humanidades e Filosofia e foi censor da Inquisição.
Leccionou também Matemática no Colégio
das Artes da Universidade de Coimbra. Aquando da sua morte
era reitor do Colégio de São Lourenço
(Seminário dos Grilos), no Porto.
Gaspar Pinto.
Era filho de Álvaro Pires Botelho e de Branca Pires
Macedo, senhores da Quinta do Cabouco. Foi jesuíta
e confessor de D. João lV.
Madre Maria de Jesus
Nascida e baptizada em Cárquere, faleceu com fama de
santidade, a 25 de Agosto de 1691. Era filha de Diogo da Silveira
Carneiro e de Maria de Melo Sequeira, tementes a Deus e caridosos
com os pobres.
Osório de Cárquere
Merecedor de toda a confiança dos jesuítas de
Cárquere, foi-lhe dado a conhecer o local onde a Ordem
tinha escondido grandes somas de dinheiro, as quais podia
usar indiscriminadamente no caso de não voltarem mais
a Portugal, uma vez que tinham sido expulsos pelo Marquês
de Pombal em 1759.
Osório de Cárquere fez uma grande fortuna, com
o qual dotou o seu filho Frei João Osório e
formou o Dr. Alexandre Rodrigues Osório.
Maria do Pilar Monteiro Osório
Nasceu na Quinta da Granja, em Cárquere, a 19 de Julho
de 1887.
Filha do Dr. António Bandeira Monteiro Subágua
de Vasconcelos e de Joaquina Emília de Vasconcelos
Osório Pereira Bravo, casou com Manuel Maria Ferreira
Sarmento Osório, senhor da casa de Britiande, sita
em Lamego.
Tendo herdado do pai o gosto pelas Letras, tornou-se uma escritora
de grande mérito, muito apreciada no seu tempo, colaborando
em jornais e revistas. Escreveu e publicou ainda os seguintes
romances e novelas: “Lágrimas e Saudade”,
“Uma família que viveu no século passado”,
“a Secular do Convento de Barrô”, “A
Filha do Povo” e “As Duas Mulheres”.
Dr. Joaquim Antero de Sousa Pinto
Nasceu em Cárquere, em 1246, e foi mais conhecido pelo
nome literário ”Adriano Antero”.
O seu trabalho na área dos factos económicos
e jurídicos foi notável. Dos livros que escreveu
podemos destacar: “História Económica”,
“Comentário ao Código Comercial Português”,
“Erros Jurídicos” e “Direito Internacional”.
Além de escritor, foi um sublime advogado, deputado
em várias legislaturas, professor de História
Económica e Geografia no Instituto Industrial do Porto
e Vice-presidente da Câmara do Porto, cidade onde viria
a falecer em 1934.
Dr. Joaquim de Brito Dias
Joaquim de Brito Dias nasceu em Cárquere a 12 de Março
de 1900 e era filho de Manuel de Brito Dias. Por segundo casamento
de seu pai, uma vez que a mãe tinha falecido durante
o parto, foi para a Régua, onde frequentou o ensino
primário. Prosseguiu os seus estudos no Colégio
dos Jesuítas, na Bélgica, e depois estudou direito
na Universidade de Coimbra, onde se licenciou. Exerceu esta
profissão em Resende e em muitas outras cidades do
país.
Foi Presidente da Câmara de Resende de 1953 a 1960,
Presidente da União Nacional do Distrito de Viseu e
chegou a ser convidado para o cargo de Governador Civil de
Vila Real, no governo de Salazar, mas não aceitou.
Casou-se com Maria Vitória Pinto Pizarro de Gama Lobo,
de uma família fidalga de Gouvinhas e passou a viver
na casa e quinta de Cimo de Vila, em Cárquere, onde
veio a falecer a 18 de Fevereiro de 1973. |